terça-feira, 30 de novembro de 2010

TRINTA ANOS SEM CARTOLA


Pobre, preto, servente de obra, parou os estudos no primário. Passou a infância na Zona Sul, no Catete e em Laranjeiras, mas logo depois a numerosa família mudou-se para a favela que nascia no Morro da Mangueira.

Estas linhas descrevem a vida de milhares de cariocas da primeira metade do século XX. São uma espécie de biografia compartilhada por uma multidão. Porém, me refiro aqui a um único carioca. Um carioca diferente.

Durante o expediente nas obras, este carioca especial utilizava um chapéu-coco, para se proteger do cimento que caía de cima. Por isso, ganhou dos companheiros de trabalho o apelido de Cartola.

Apelido que, curiosamente, é o mesmo do clube para o qual Cartola torcia: o Fluminense. Fluminense que tantos insistem em chamar de aristocrático, mas que já naquela época abrigava torcedores como Cartola: milhares de pobres, pretos e favelados tão tricolores quantoFernanda Montenegro e Barbosa Lima Sobrinho. Fluminense que tem orgulho de sua gente, de seu povo.

Ai dos que tentem diminuir o sentimento pó-de-arroz de Cartola. O músico genial era muito tricolor. Tanto que, ao fundar a Estação Primeira de Mangueira, impôs que as cores da escola de samba seriam as cores do Fluminense. (o grená acabou virando rosa, mas este é um detalhe irrelevante)

Há exatos trinta anos, o Fluminense levantava o Campeonato Carioca, em dramática final contra o Vasco, com o gol de Edinho. Quis o destino que, no mesmo dia, os céus viessem buscar o poeta Cartola. O gênio faleceu campeão.

Sobre seu caixão, estava a bandeira do Fluminense, ao lado do pavilhão da Mangueira. As duas paixões institucionais da vida de Cartola o acompanharam até seu último instante terreno.

Domingo, o grande poeta estará no Estádio Olímpico, junto com a multidão tricolor. Vai comemorar o título como nos velhos tempos.

Abençoado é o Fluminense, que possui Cartola em suas fileiras. Para sempre.

PC

Nenhum comentário:

Postar um comentário