sexta-feira, 24 de setembro de 2010

FILHOS DE UNIÃO


Nas minhas andanças em busca da história de União deparei-me, numa das caixas de meu armário, com um texto escrito pelo Unionense José Raimundo Sousa, radialista, escritor. Lembrei-me de um projeto chamado "Coletânea de União". Numa dessas procuras em busca de segredos da história de União, fui convidado pelo autor, José Raimundo, a participar de uma entrevista com um grande filho de União: Marcelino José da Cruz. Vaqueiro, homem reto e de uma belíssima família. Posto abaixo o texto escrito por José Raimundo, cheio de emoção e história. A foto histórica acima retrata bem a luta de Marcelino Teófilo para a realização do Dia dos vaqueiros em União.

COLETÂNEA HISTÓRICA DE UNIÃO




- A VIDA NO CAMPO-

 

Ter a sorte de trabalhar nesta coletânea histórica de União é, de repente, se sentir parte dela, sobretudo quando temos de “esmiuçar” a vida de um homem chamado Marcelino José da Cruz, o Marcelino Teófilo. Queríamos ser impessoais ao máximo, mas esse desejo se desarmou logo nas palavras iniciais, com o tratamento, por ele, de “meu filho” – aliás, sou afilhado, porém bastante para a comoção total. Desculpem-me portanto.

Esse homem teve toda a sua vida recheada de grandes lutas e as enfrentou a todas com altivez. Começou logo cedinho. Mal começa a ver o mundo e já não tem a mãe. Mas segue a vida. Aprende a trabalhar, casa-se em 1944 com a Dona Alzira, com quem teve 14 filhos, 5 homens e 9 mulheres.

A sua inquietude desperta no Sr. Prisco Medeiros o interesse de tê-lo como vaqueiro, na sua fazenda “Canto da Várzea” e lá, Marcelino passa 11 anos.

É convidado pelo Sr. Antonio Medeiros para trabalhar na Fazenda Veneza e aí passa mais 11 anos.

Marcelino sempre foi um trabalhador arrojado. Homem de grandes lavouras, zeloso, mas a lida com o gado foi a responsável pela sua entrada para a história. São tantas as suas proezas como vaqueiro que resolvemos não nos ater tanto nos momentosa picantes da profissão para falarmos mais nas amenidades e, provavelmente, dos seus dias mais difíceis.

Conhecedor profundo da luta pesada no campo ele queria um dia de festa para o vaqueiro nos festejos de São Raimundo Nonato. Este, já existia, mas era pequeno, e Marcelino nunca foi homem para coisas pequenas. Sua idéia encontrou guarida nas ações do Padre Luís de Castro Brasileiro, de quem se tornou amigo. Da conjugação das idéias do vaqueiro e do e do padre surgiu robusta a procissão dos vaqueiros, o dia do vaqueiro os festejos de São Raimundo Nonato, em União.

Marcelino, tão afeito ao trabalho para os outros, quis ter o seu patrimônio. Conseguiu. Comprou as propriedades Prata, São Felipe e Cajazeiras. Desfez-se de uma delas (vendida a Marcos Conde Medeiros). Nas outras ele mantém ainda pequenos rebanhos, suficientes para ir mantendo os gastos com o que precisa.

Quando deixou a Fazenda Veneza, veio morar em União, de onde administra os seus bens no interior. Aqui fixou residência à Rua 7 de Setembro, numa casa bem construída.

Homem de muitos amigos, ele cita nas suas conversas alguns, como: Zezinho Sampaio, Francisco Medeiros, Onofre Rodrigues e tantos outros e se emociona. Lembra dos trabalhos pesados, da luta diária, e se emociona mais ainda.

“Seu” Marcelino vai festejou seus 87 anos dia 13 de Fevereiro (2007), da forma como não gostaria, doente e privado de quase tudo pela doença que lhe incomoda há mais de uma década. No seu leito ele passa o tempo mergulhado nas muitas lembranças, fala de tudo quando chegam visitas, sempre do seu jeito: alegre, reto, objetivo. Me disse que deseja morrer sem dívidas e sem dor (aí ele ri com ironia).

Perguntei a ele sobre uma grande mulher que sempre aparece na vida de um grande homem e ele tentou falar, sorrir e chorar ao mesmo tempo. Apenas ouvi da sua boca a expressão: “Eu era quase menino... tive muita sorte... casei e acertei”. Um aperto na mão dela foi o gesto que veio assim como um carimbo para oficializar aquelas breves e reticentes palavras.

É, a vida é assim. Um homem acostumado a grandes desafios, aos 87 anos enfrentando mais um, para ele o último. De qualquer forma, tudo indica que só resta agradecer a Deus por ter dado a União o homem Marcelino Teófilo.

Quanto à morte... ela é muito boba. Marcelino soube se fazer eterno, imortal, com sua vida de retidão e bravura.










Texto: José Raimundo Sousa


Quero postar um comentário feito aqui sobre esse grande vulto unionense. O comentário é também de um grande unionense: David Barros




"Brigido,ao publicar a historia de vida de seu Marcelino Teofilo,vc resgata nao so a luta de um Homem do campo,mas parte da historia de nossa Uniao e de muitos outros Homens unionenses,q embora anonimos construiram,alicerçaram com suor e as vezes sangue a cidade em q vivemos criando um amalgama indestrutivel com seus carateres e exemplo de verdadeiros Cidadãos.Ha um poema de Brecht,escritor alemao,vc deve conhece-lo q diz:Ha homens q lutam um dia e sao bons.Ha outros q lutam muitos dias e sao muito bons.Outros lutam muitos anos e sao melhores,porem ha os q lutam por toda vida,esses sao os imprescindiveis...Marcelino Teofilo era um desses. "

Um comentário:

  1. Brigido,ao publicar a historia de vida de seu Marcelino Teofilo,vc resgata nao so a luta de um Homem do campo,mas parte da historia de nossa Uniao e de muitos outros Homens unionenses,q embora anonimos construiram,alicerçaram com suor e as vezes sangue a cidade em q vivemos criando um amalgama indestrutivel com seus carateres e exemplo de verdadeiros Cidadãos.Ha um poema de Brecht,escritor alemao,vc deve conhece-lo q diz:Ha homens q lutam um dia e sao bons.Ha outros q lutam muitos dias e sao muito bons.Outros lutam muitos anos e sao melhores,porem ha os q lutam por toda vida,esses sao os imprescindiveis...Marcelino Teofilo era um desses.

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